domingo, 10 de julho de 2011

Certinha demais

Profundamente racista, jogou delicadamente para trás os sedosos cabelos louro-claros.  Enquanto esperava a enfermeira trazê-lo para mamar, considerou se teria exagerado nas suas atitudes politicamente corretas ao dar à luz o seu terceiro filho negro.

sábado, 9 de julho de 2011

Ops!

Quando a cabeça caiu e o carrasco viu os olhos azuis esbugalhados lembrou, embaraçado, do comando: Ao de olhos claros, vinte chibatadas!

Incompreensão

Por anos ela pedia, implorava, gritava cada vez mais alto para que ele voltasse, ficasse com ela, que fossem felizes juntos. Mas ele fugia, assustado. Não entendia porque ela agia daquela forma. Por anos ele tentara se aproximar, ficar junto dela, sentir seu calor, demonstrar ronronando todo o seu amor. Mas ela seguia latindo histericamente.

Sem perdão

O arrependimento viera logo após. Inutilmente ele tentara se desculpar. Ela jamais permitira que ele lhe dirigisse palavra. Não atendia telefonemas e rasgava cartas sem abrir. Ele era consumido pela culpa e há mais de sessenta anos tinha a insônia por companhia. No momento derradeiro, depositou um bilhete sob suas femininas mãos gélidas no esquife. Em algum momento da eternidade ela tomaria conhecimento daquela última palavra: perdão! Antes que o sono pudesse acercar-se, soube que ela fora cremada.

Abismo

Acordou atordoado pelo barulho assustador. Percebeu que milagrosamente a parte de trás do carro estava incólume. Não ouviu os gritos de alerta dos passageiros do último vagão. Abriu a porta e se precipitou no abismo sob a imensa ponte da estrada de ferro.

Inevitável

Pela primeira vez os trapezistas desentendiam-se. Ela se recusou ao novo salto. Pressentiu que seria fatal. Ele não suportou a falta de confiança. Decidiu abandoná-la. Morreram de desgosto.